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JARDIM DA CASA VISTA

Bahia

texto Isabel Duprat

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No topo da falésia a linha de um horizonte infinito nos dá a dimensão da paisagem. O vento é constante e bem-vindo no verão seco, agressivo e inconveniente no inverno chuvoso. Pior ainda quando vem do sudoeste. 

 

A grande beleza do terreno de 12000 m² é a indescritível vista ao mar. No verão quando a falta da chuva deixa a areia assentar, os tons de azul límpidos exageram na paleta. Sim, é um deslumbramento! E aquela eterna discussão de que o belo é relativo e cultural perde a consistência frente a esta visão magnífica. Na natureza todos sabemos o que é belo. 

 

A casa projetada por Marcio Kogan com 60 metros de comprimento deveria se mimetizar na paisagem e a sensação de onipresença atenuada pelo projeto de paisagismo, uma vez que ela estava absolutamente só no terreno. 

 

Apenas três árvores: uma pequena e graciosa Ouratea junto à calçada e duas esguias na lateral direita do lote. Na divisa, uma mangaba, que quando se tem, é para guardar e cuidar. Fazemos com seus frutos um suco e um sorvete maravilhosos. Nunca consegui mudas para plantar nos jardins e o transplante mesmo de espécimes jovens não é bem sucedido.  

  

Criar um jardim para receber esta arquitetura partindo de um terreno completamente vazio, com um solo pouco favorável, e trazer a sensação de lugar para se usufruir a beleza da vista que nos é oferecida, integrando-se ao entorno, sem transformá-lo apenas em um jardim-belvedere, foram as premissas que priorizei no projeto de paisagismo. 

 

As duas faces da casa se abrem para o jardim. A face leste se escancara para o mar, a oeste para a rua e para o condomínio, pedindo privacidade.  

 

O terreno embora parecesse plano tinha uma inclinação visualmente desconfortável em direção à borda da falésia. Desenhei então suaves curvas de nível estruturando o terreno, deixando a casa mais à vontade. O primeiro patamar envolve toda a construção definido por uma mureta contínua a 30 cm abaixo do nível da casa. Sua organicidade faz um contraponto à linearidade da casa. Frente ao mar estas curvas ficam explícitas no desenho e a presença do vento constante é revelada no vai e vem dos capins de diferentes alturas, cores e flores, que plantei em grandes blocos como ondas na rebentação. Desenhei a piscina integrada a este movimento, um canteiro de água em meio aos capins encaixado no patamar sinuoso, refletindo os humores do céu. Foi feita para a natação com 25 metros e as laterais paralelas, a pedido do cliente. Ingás e pithecolobium foram plantados preparando a sombra ao seu lado. 

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O basalto com junta de grama faz todos os caminhos externos e o deck da piscina, que foi revestida com ardósia.

 

Reconstituir a vegetação no tabuleiro da falésia que num tempo longínquo foi coberto de mata é extremamente difícil. Mas quis plantar árvores, elas precisavam voltar. Na área entre a casa e a rua, cuja largura varia entre 30 e 60 metros, grandes árvores foram plantadas, como nim, sapucaia, Erythrina falcata, samanea, flamboyant, monguba, aroeiras e ipês, dando escala à casa, trazendo o céu para mais perto dela.  

 

Arvoretas, como araçás, algodão-da-praia, cainito, grumixama e capororoca, fazem o fechamento mais ou menos denso, dependendo do que se queria proteger ou apenas dissimular. Arbustos e forrações, como urucum, Clusia lanceolata, trialis, ananás, aechmeas, crinuns, turnera, holmiskioldia, bougainvillea  e mussaendas, trazem colorido à entrada da casa.  Uma certa desorganização foi proposital para ter um lugar com uma densidade de vegetação que vamos entendendo aos poucos e que é muito bem-vinda nesta face do terreno conferindo além de privacidade, proteção do sol, e amenizando um pouco o vento. Muitos filodendros e bastões-do-imperador lambem selvagemente esta face da casa.  

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Nas divisas, muitas árvores frutíferas. Junto à casa vizinha, à esquerda, pitangueiras, grumixamas, cabeludinhas, cajueiros faceando o mar, e alguns dendês que se juntam aos do vizinho e fazem o fechamento necessário exibindo toda sua beleza.

 

Na outra divisa, mais frutas como num quintal: graviola, fruta-pão, tamarindo, seriguela, para compor este quintal com sabor doce da Bahia.

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Pá_transp_inclinada.png
Plantas original transp.png
Lapiseira transp inclinado2.png

Colaboração e coordenação arquiteta Nathalia Fonseca

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Área de intervenção 7.800 m²

Projeto e execução 2016 - 2019

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The New York Times Style Magazine. In Brazil, a House That Frames Its Landscape Like a Camera. Por Michael Snyder. Setembro de 2021

Abitare. In Corriere della Sera, Spaces in a single take. By Luca Trombetta, Março de 2022

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