CASA DOS PÁTIOS
São Paulo, SP
texto Isabel Duprat
Os jardins desta casa projetada por Isay Weinfeld são os vazios criados pela ocupação de um terreno de 865 m², que brotam aqui e ali como fontes de luz e frescor para os ambientes internos.
Com a possibilidade de ao mesmo tempo ter a visão de dois pátios, selecionei plantas que se repetem, algumas, não todas, passando de um para o outro, e depois para o outro que não se vê mas que se registra na memória, como se estes jardins fossem na verdade um só, o que dá a sensação de que percorrem toda a casa. O sombreamento dos muros, nestes pequenos pátios e da própria casa, com alguns pontos de sol, suas dimensões reduzidas e a altura de terra para plantio, apenas um deles está em solo natural, balizaram a escolha das espécies.
O jasmim manga foi usado no pátio mais ensolarado e sobre a laje, devido ao seu porte menor e escultural, adaptar-se bem a pouca altura de terra e dar belas flores perfumadas. No jardim onde tínhamos solo permeável, plantei um ipê roxo com o tronco livre até quase 3 metros, para a sua copa se mostrar no escritório do andar superior. Palmeiras Ptychosperma elegans com fustes muito finos, entremeadas por samambaias e filodendros, e pequenos espelhos d’água aparecem aqui e acolá refletindo pontos de luz.
A casa se volta para um jardim junto à piscina e ao terraço da churrasqueira, limitado pelos muros de divisa, o da direita bastante alto. Para minimizar a sua importância indesejada sobre o jardim ele foi cortado por uma jardineira intermediária, onde plantamos Parthenocissus como fundo de um linha de longilíneos Triplaris brasiliensis, cuja verticalidade e boa altura deram sua contribuição nesta tarefa.
Neste tabuleiro verde faltava o movimento mais difícil: a entrada social da casa com 1,50m de largura e 30m de comprimento entre duas paredes, um corredor fino e comprido!
No início do projeto fui visitar a casa em que os clientes moravam, a pedido deles, para que eu conhecesse o jardim e a sensação agradável que tinham no seu uso diário e intenso. Muitas trepadeiras diferentes, perfumes, espécies e cores cobrindo paredes e engastalhando na pérgola das refeições diárias.
Esta foi a chave para pensar a entrada. Uma pérgola de madeira que se apoiava nas duas paredes teve seus espaçamentos aumentados a nosso pedido para deixar entrar mais luz. No percurso da calçada à porta principal, plantei diversas trepadeiras de meia sombra e que não avançassem muito no caminho já estreito, como os clerodendrons, stephanotis para perfumar, abutilon, filodendro cordato, jade e flor de cera, subindo pelas as paredes e pela pérgola. Esta variedade de espécies escolhi com o propósito de distrair a caminhada e tornar a chegada agradável. Entremeei begônias de diversas espécies e tamanhos, fitônias coloridas e delicadas, gloxínia de folhas aveludas, samambaias, avencas, peperômias, cissus se alternando e envolvendo o piso de basalto com junta de grama preta anã.
As trepadeiras foram também cobrir outras paredes do jardim. Glicínia e ipomeia, perto da piscina, flor-de-são-miguel no pátio do jasmim manga, samambaia trepadeira e philodendrons nos pátios mais sombrios.
No precioso livro As ilhas de Jean Grenier, ele descreve com delicadeza uma passagem, quando morava na Itália:
Era abril ou maio. Num lugar onde a ruela fazia ângulo,um forte odor de jasmins e de lilás me impregnava. Eu não via as flores ocultas que estavam pela muralha. Mas eu me detinha longamente para respirá-las e minha noite era perfumada com isso. Como eu compreendia aqueles que confinavam tão ciosamente estas flores que eles amavam! Uma paixão quer fortalezas em volta, e nesse minuto eu adorava o mistério que torna tudo belo, o mistério sem o qual não há felicidade.
Área de intervenção 400 m²
Projeto e execução 2011 - 2013
Isay Weinfeled: an architect from Brazil. Die Gestalten Verlag, 2017