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JARDIM DA CASA ASA

Rio de Janeiro, RJ

texto Isabel Duprat

 

A paisagem de Rugendas, com todos os seus gentis detalhes pictóricos, estava lá nos brindando na minha primeira visita ao terreno. Estando no Rio de Janeiro e, de repente, olhando para um lado e outro, nos comovemos com uma vista ao Corcovado, ao Morro Dois Irmãos e à floresta, tudo isto no mesmo pedaço de terra. 

Que privilégio fazer um jardim em meio a tanta coisa bela!

 

Este envoltório de mata urbana subindo morro acima e que tanto nos fascina sugeria que, para reverenciarmos esta natureza pujante, precisávamos de uma distância, um vazio do tamanho do nosso olhar. 

Aproveitando a área com pouca vegetação no ponto onde estava a antiga construção que seria demolida, assim como a via de acesso de automóvel existente, desenhei um primeiro platô gramado, sem mácula, no nível da casa projetada por Bernardes arquitetura. Este platô se conecta através de uma escada sinuosa com um segundo platô um pouco maior, que se acomoda no colo das árvores existentes, junto à borda da mata. Ao percorrer este vazio sentimos a presença e a força de um enorme paredão de árvores escalando a encosta. É uma vivência inesquecível!  

Neste contexto loquei a piscina, que estava prevista na mesma face do espelho d’água, para o lado oposto por várias razões. Entre elas o fato da insolação ser melhor, ter a piscina em solo natural, e não sobre laje, consequentemente acomodando melhor a cota dos anexos além de  conquistar um lugar privilegiado do jardim com vocação de estar e que seria na outra circunstância só uma passagem. Esta posição da piscina me possibilitou trabalhar a vegetação como uma pintura viva permeando as árvores com folhagens coloridas, tons e matizes de verde, palmeiras, samambaias e filodendros se emaranhando na mata nativa que vai sendo percebida com calma enquanto se desfruta a água. Uma sensação diferente de quando se está junto ao espelho d'água com borda infinita.

Para fazer o acesso do automóvel junto à casa usei o paralelepípedo, brincando com as formas da arquitetura e, continuando seu percurso nos caminhos através da mata até a quadra de tênis e ao anexo.

Próximo à entrada da casa desenhei uma escada que acessa o platô gramado, envolta por plantas coloridas por tons de verde pontuada por uma sapucaia de copa rosada, e por longilíneas palmeiras carpentarias que aparecem enfeitadas com cachos de semente vermelhas no nível superior.

Para usufruir o jardim nos momentos de estar criei três pátios como tapetes de pedra para diferentes situações e formas de usar: um junto ao espelho d’água com canteiros entremeados no piso, para receber as samaneas, e usufruir o espelho d’água, um junto à piscina, como um deck  e outro mais reservado junto à sala.

Margeando o acesso de automóvel para realizar a contenção dos taludes existentes que estavam começando a apresentar pontos de erosão, fizemos muros de concreto ligeiramente inclinados, recurso que os japoneses usam em muitos de seus muros por razões técnicas e com belo resultado estético. Em toda esta encosta que acompanha o caminho, a vegetação foi recuperada com a introdução de árvores nativas e vegetação de cobertura de solo, assim como em toda a propriedade, realizando o manejo de jaqueiras jovens.

A generosa escala do terreno e as diferentes ambiências, de áreas de bosque e seus sub bosques, áreas de sol e sombra, abertas e fechadas, nos propiciaram uma infinidade de usos de espécies arbóreas, arbustivas, folhagens e forrações que foram sendo introduzidas durante anos em muitas visitas à obra, com toda delicadeza e respeito à bela paisagem que acolhe este jardim.

Foram alguns anos, entre projeto e execução, com muitos pousos e decolagens, realizando um trabalho que me deu grande alegria compartilhada pelos antigos clientes, grandes apreciadores de jardim e com enorme respeito pelas pessoas envolvidas neste fazer.

Pá_transp_inclinada.png
Plantas original transp.png
Lapiseira transp inclinado2.png

Área de intervenção 25.000 m²

Projeto e execução 2012 -  2019

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